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Márcia Doring

Falando honestamente sobre BIM



A sigla BIM significa - Building Information Model, ou o Modelo de Informação da Construção, numa tradução literal.


Primeiro precisamos refletir sobre a forma que o BIM se encaixa no planejamento estratégico da empresa. Ou você acha que uma empresa de engenharia só precisa de bons engenheiros, arquitetos e técnicos para se manter no mercado? Não se iluda, pode parecer que não existe estratégia, mas isso pode ser apenas uma estratégia.


O BIM não é só uma maquete eletrônica para encantar os stakeholders, ou para mostrar que a empresa é “moderninha” e usa os “programas” da moda. BIM é INFORMAÇÂO. O Modelo BIM representa a construção virtual daquilo que será construído no mundo real.


Eu já vi muitos profissionais cometendo muitos equívocos em seu entendimento do que envolve um projeto elaborado em e vou dar alguns exemplos:


Elaborar o projeto em 2D e “passar a limpo” na ferramenta de elaboração do Modelo

  • Com isso se perde todo o potencial de simulações, da elaboração progressiva, interações com outras disciplinas etc. Perde a alma do BIM.


Confundir a ferramenta utilizada com o BIM

  • Existem muitas ferramentas disponíveis, e a integração pode se dar através de plataformas de colaboração usando o formato IFC, o BIM propriamente dito vai muito além da ferramenta e não se limita a ela.


Não analisar ou não ter um Objetivo estabelecido para o Uso do BIM

  • As possibilidades de uso são muito diversas, o detalhamento, as informações e parâmetros precisam ser planejados em função desse objetivo de uso. Nesses parâmetros, podemos incorporar além das informações geométricas, parâmetros de tempo, custo, organização etc. Isso também evita que o esforço seja além do necessário ou que o modelo não atenda as expectativas.

“Ah isso dá muito trabalho, não seria melhor continuar a fazer do jeito que tenho feito ao longo de todos esses anos?” NÃO!


Para entender as vantagens e todos os benefícios para os envolvidos no processo, precisamos mudar a mentalidade, de cada colaborador e a corporativa também.


As vantagens são imensas, desde as interferências que são identificadas no projeto antes de chegar no campo até as facilidades durante a vida útil do empreendimento facilitando a manutenção. Todos os equipamentos instalados estão ali, com todas as especificações, podendo ser incorporado ao banco de dados os manuais de instalação, operação, garantia etc.


Meu principal objetivo é capitanear os benefícios do BIM na etapa de elaboração do projeto, e hoje ainda estamos naquela etapa do processo de mudança da negação em algumas empresas. Onde os owners e as empresas projetistas querem os benefícios do BIM, mas ainda pensam e usam alguns métodos e práticas do projeto em 2D. E quase sempre essa mentalidade provoca conflitos.


A elaboração do modelo é progressiva e incremental, portanto, a gestão precisa estar preparada para isso. O micro controle por entregável 2D não funciona para o BIM já que o modelo de acompanhamento deve ser adaptado a um processo dinâmico, com alguma incerteza. A principal entrega não é o documento 2D e sim o conjunto das informações contemplado no modelo como um todo, essa saída em 2D é apenas para dar o conforto que o cliente está recebendo algo tangível, porque o importante no processo são os dados, as informações. Mas estamos preparados para isso?


Começamos aí outra reflexão, estamos vivendo um momento de transformação digital, existe a necessidade da mudança da cultura, uma educação em dados para todos os envolvidos. E isso acaba sendo muito teórico para alguns, quase um delírio. Estou acostumada a ver a dúvida e a incredulidade, nos olhos das pessoas.


Todos devem conseguir entender que não se trata de desenhos, formatos, carimbos, se trata da informação certa, suficientemente detalhada, sem conflitos com outras informações do projeto ou com requisitos de normas vigentes, que podem ser manipuladas, tabuladas, analisadas para criar uma base de conhecimento para etapas futuras ou ainda para outros projetos.


Outro ponto que na minha opinião é importante, somos responsáveis pelo nosso autodesenvolvimento. Uma empresa pode treinar seus colaboradores continuamente? Sim pode, mas alguns treinamentos são longos, ou leva tempo que seja identificada sua necessidade e ele seja disponibilizado. Hoje devemos concordar que a informação fica ultrapassada de forma muito rápida. O que aprendemos há dois anos pode estar completamente superado hoje, pelo menos naquilo que se refere a tecnologia, e essa realidade não vai mudar, bem pelo contrário.


Os processos não ficarão estagnados só porque ficamos desconfortáveis com a mudança. Então precisamos assumir a responsabilidade pelo nosso conhecimento, entender que ele é nosso maior patrimônio e temos que buscar aprender todos os dias, sempre.


Precisamos observar novas tendências, conhecer novas terminologias, novas ferramentas. Ao ficarmos sentados nos nossos tronos de saberes, conquistados há tempos, só vai nos deixar isolados e defasados. Poderá ser irreversível em algum momento, e poderemos até correr o risco de ficar sem espaço nas organizações.


Não podemos deixar o maior bem que temos, que é o nosso conhecimento sob a responsabilidade dos outros, vamos aprender sempre, nunca estaremos prontos totalmente, haverá sempre alguém com ideias melhores, mas podemos nos tornarmos melhores a cada dia, e atualizados com as novas tecnologias e novo ritmo do mundo.


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